O Caminho das Virtudes
O caminho para desvendar o sentido da palavra virtude, da pessoa virtuosa não é uma empreitada simples. Como se tornar virtuoso e gerar os frutos do Espírito Santo em uma sociedade onde laboram outros ideais, onde prevalece a busca para ganhar mais dinheiro, subir na escala social, fazer promoção, ter mais bens, mais poder sobre os outros?
No parágrafo 4 da encíclica Gaudium et Spes esta identificado esta dificuldade: A humanidade vive hoje uma fase nova da sua história, na qual profundas e rápidas transformações se estendem progressivamente a toda a terra. Provocadas pela inteligência e atividade criadora do homem, elas reincidem sobre o mesmo homem, sobre os seus juízos e desejos individuais e coletivos, sobre os seus modos de pensar e agir, tanto em relação às coisas como às pessoas.
De tal modo que podemos já falar duma verdadeira transformação social e cultural, que se reflecte também na vida religiosa. Como acontece em qualquer crise de crescimento, esta transformação traz consigo não pequenas dificuldades. Assim, o homem, que tão imensamente alarga o próprio poder, nem sempre é capaz de o pôr ao seu serviço. Ao procurar penetrar mais fundo no interior de si mesmo, aparece frequentemente mais incerto a seu próprio respeito. E, descobrindo gradualmente com maior clareza as leis da vida social, hesita quanto à direcção que a esta deve imprimir .
As forças que operam no ser humano estão numa recíproca interdependência dinâmica. Podem agir umas sobre as outras, normalmente apelam para estruturar-se em uma unidade hierárquica. Capacitam-nos para novas potencialidades, ajudam-nos na difícil tarefa da adaptação em novas situações.
A pessoa humana pode configurar-se interiormente segundo um próprio projeto de valores. Esta configuração espiritual e interior depende: da condução, da limpidez com que o indivíduo percebe os valores, da veemência com que tende a eles e da tenacidade com que se empenha. Toda a nossa realidade humana é perpassada pela realidade divina. Elas se entrelaçam. A pessoa que se dispõe a viver e a abrigar segundo as exigências de determinados valores, adquire pré-disposições para tal comportamento, que aos poucos vão se tornar hábitos operativos.
Ser virtuoso nos dias de hoje implica sairmos da inércia, da incerteza, da incoerência. Quando operado de modo responsável, humanístico e espiritual, então ganha a qualidade de virtude moralmente boa. Este hábito bom não será algo que se adiciona à personalidade, mas é o incremento da própria personalidade segundo uma escala de valores.
Para alcançar o autodomínio virtuoso precisamos de uma ambiência afetiva amorosa que gera segurança, auto-estima, imprescindível para a maturidade afetivo-espiritual, por que a verdadeira virtude é afastamento do individualismo para uma forma de vida como dom oblativo aos outros e a Deus. Vivemos as virtudes quando, apesar de todas as incertezas, dificuldades que encontramos, temos a esperança que o amanhã será diferente e melhor, buscando assumir com coragem a nossa missão de promotores da paz, do amor, da justiça, igualdade, tendo sempre como ponto de chegada a instauração do Reino de Deus no hoje e agora da nossa história.
As virtudes concernem à intimidade das pessoas, expressam-se na práxis das pessoas, crescem e criam raízes pela práxis. Na tradição católica conhecem-se virtudes infusas. À luz da fé cristã a aprendizagem da vida virtuosa e sua evolução histórica são um processo de aproximação e interação de dois pólos: de um lado a generosidade de Deus que comunica sua força, sua virtude, aos homens de boa vontade, de modo que as virtudes humanas são verdadeiros frutos do Espírito que cobrem a fraqueza humana com a força do alto (Gl 5, 16-25; Lc 24, 49).
De outro lado, entra a disciplina dos discípulos, a diligência feita para levar a vida de um discípulo fiel ao Espírito do Senhor. Pela reprodução sempre renovada dos encontros entre Jesus e o discípulo, uma autentica amizade acontece; aqui os dois se movimentam e interpenetram cada vez mais. O movimento de Jesus é a revelação progressiva& e dos discípulos é movimento em direção a Jesus. Cooperando com a graça é que hão de se libertar.
Como nos ensina o Santo Padre Bento XVI em sua encíclica Deus Caritas Est, o amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de mais para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira, e isto a todos os seus níveis. Este amor é a espinha dorsal das virtudes na vida dos cristãos, assim, não somente reinflamar as virtudes, a Igreja necessita reavivar o dom de Deus, como nos ensina São Paulo (2 Tm 6,1), este novo amor é a via no qual os cristãos encontraram para viver as virtudes.
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